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Matéria: João-de-Barro

A paisagem natural foi desrespeitada para dar inicio a paisagem construída, na maioria das vezes desmatando, ocupando, edificando, explorando, retirando, concretando e concretizando o que no futuro iria ser o planeta Terra febril, tornando-se notícia. O chamado “fim do Mundo” das antigas previsões e profecias tornou-se fato real entre estimativas, estatísticas, estudos, imagens de satélites, etc.

Sabemos que soluções existem para reverter este estado febril, com o corte abrangente de gases, nos próximos 50 anos, que geram o efeito estufa e principalmente inserindo mudanças na forma de pensar e de cuidar paisagens. As mudanças serão comportamentais e culturais imprimindo uma nova forma de viver dos moradores do planeta Terra, neste curto prazo de cinqüenta anos, se quisermos deixar alguém por aqui (filhos, netos, etc).

Iniciemos então o pensar – paisagem, refazendo o que de certa forma destruímos para também criar paisagens (pois a imagem de uma área desvastada também é paisagem). O paisagismo é uma expressão artística que somada a técnica não pode ser entendida apenas como ajardinamento e sim como tratamento de paisagens. O pensar paisagismo significaria, por exemplo, entender o porquê de nossas cidades do Litoral Norte Paulista possuir tão poucas ruas e espaços arborizados? (com alguma ressalva para a Ilhabela). Porque não temos nenhum parque urbano para passear, exercitar ou conviver? Será que isto se deve ao fato de estarmos aos pés do restante da Mata Atlântica, entre vários Parques Estaduais tombados e possuir a praia para nos encontrarmos nos finais de semanas?

E o cuidado de um técnico ao planejar paisagens urbanas é imprescindível para que o uso de estratos vegetais seja adequado, de escolha certa de espécies, principalmente para o plantio em ruas. O plantio inadequado e aleatório de espécies vegetais causa danos maiores à natureza, quando a mesma passa a ser “vítima de acusações e desafetos” (exemplo: muros, calçadas e fiações danificadas) tornando-se um estorvo sem a mínima intenção.

Você já pensou que muitas infâncias, talvez os teus filhos, não conheçam um cajueiro, ou uma goiabeira e quem dera uma jabuticabeira? Talvez nunca tenham arrancado uma fruta do pé? Para as crianças moradoras de grandes centros urbanos, estas frutas são líquidas e embaladas em caixinhas tetra-pak. O fato é tão absurdo e real, que mini – fazendas foram construídas para passeios e reconhecimentos com ingressos pagos e programações de férias. A pergunta é: que perfil terá esta criança envelopada apenas pela informação digital e consumindo apenas produtos fabricados de altas calorias?

O pensar – paisagem também pode mudar este quadro, quando o paisagismo for inserido nos espaços das escolas, quando o pátio virar sala de aula, e o meio ambiente natural ser compreendido e vivenciado. Então estimulemos nossas crianças a plantarem árvores. Todo homem deveria ter a oportunidade de ter filhos, escrever um livro e plantar uma árvore, pois o crescimento de uma árvore plantada registra uma história contínua, ela cresce com você.

O pensamento – clorofila (pensamento – paisagem), nos fará refletir na importância do paisagismo para as nossas cidades, para os espaços livres, para as instituições (escolas, hospitais, etc) e para as nossas casas, reforçada e ilustrada com a orientação de Roberto Burle Marx : “A missão social do paisagista tem este lado pedagógico de fazer comunicar as multidões o sentimento de apreço e compreensão dos valores da natureza, através do contato com o jardim ou parques. No Brasil onde há em parte esse desamor pelo que é plantado, é preciso insistir muitas vezes pelo choque entre posições, provocando mudanças de mentalidade”.

Antonio César de Lima Abboud

Arquiteto, Urbanista e Diretor da Secretaria de Urbanismo de Caraguatatuba