A cada dia ouvimos e vemos mais e mais notícias alarmantes quanto aos riscos de um futuro próximo com sérias restrições de acesso à água.
Por outro lado no nosso dia a dia dificilmente nos damos conta disso, uma vez que para muitos de nós basta abrir as torneiras de nossas casas para termos água de boa qualidade.
Aprendemos na escola que de toda a água disponível na Terra, 97,6% está concentrada nos oceanos, que a água fresca corresponde aos 2,4% restante e que destes somente 0,31% não estão concentrados nos polos na forma de gelo. Resumindo, de toda a água na superfície da terra menos de 0,02% está disponível em rios e lagos na forma de água fresca pronta para consumo.
Num primeiro momento estes dados parecem assustadores, porque aparentemente temos pouquíssima água doce disponível, não é mesmo? Porém esses números são constantes e indicam que a quantidade de água no planeta tem permanecido praticamente invariável há centenas de milhões de anos. Ou seja, a quantidade de água permanece a mesma, o que muda é a sua distribuição e seu estado. E portanto nossas preocupações devem se concentrar em questões referentes ao gerenciamento da água e não ao risco de seu “desaparecimento”, tão alardeado hoje em dia.
Aspectos como as diferenças naturais da distribuição da água no planeta – temos conhecimentos das grandes regiões do planeta onde historicamente os seres que ali vivem se defrontam diariamente com a dificuldade em obter água de boa qualidade para seu sustento e sobrevivência – devem ser considerados, porém são principalmente as questões de ordens econômicas e políticas os maiores responsáveis pela crescente pressão: aumento da população, crescimento desordenado, desperdício, falta de tratamento dos esgotos industriais e residenciais e consequente poluição são fatores que afetam de modo direto tanto a quantidade quanto a qualidade da água que usamos.
Se no Brasil temos, por um lado, uma situação privilegiada, pois detemos perto de 8% da água doce do planeta por outro não fugimos à regra e 45 milhões de brasileiros não têm acesso à agua potável.
Segundo dados divulgados pelo IBGE em 2011, 62,1% do esgoto produzido pelos brasileiros não recebe nenhum tipo de tratamento antes de voltar aos rios e mananciais e assim 8 bilhões de litros de esgoto in natura são descartados diariamente!
Redundante afirmar que esgoto descartado sem o devido tratamento seja um dos principais motivos de contaminação e degradação das fontes de água doce. E esta degradação atinge de forma direta a população não só no que diz respeito às dificuldades de acesso à água potável, mas também no maior índice de doenças que por sua vez afetam o desempenho social e econômico de toda a população: pesquisas mostram que por ano, 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades devido a problemas gastrointestinais ligados a falta de saneamento, sendo que a cada afastamento perdem-se 17 horas de trabalho. E ainda, 11% das faltas do trabalhador estão relacionadas a problemas causados por esse mesmo problema.
Não só o trabalhador, mas também o desempenho escolar das crianças é afetado quando falta saneamento básico: segundo dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil a diferença de aproveitamento escolar entre crianças que têm acesso a ele é de 18% em relação as que não têm .
E quando nos voltamos para analisar o que acontece com a água limpa e já tratada descobrimos que a situação também não é das melhores. Segundo informações da coordenadoria do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, estima-se que entre 37% e 42% da água já tratada seja perdida no processo de distribuição à rede, seja por causa de vazamentos ou incapacidade de medir a água (roubo falta de aparelhos ou erros de medição).
Há muito a ser feito quando se trata do gerenciamento deste recurso natural fundamental para que toda a vida seja possível. A nós consumidores e principalmente cidadãos, cabe fazermos a nossa parte, tanto cobrando das autoridades medidas corretas e bons investimentos com o dinheiro público quanto com a adoção de medidas de economia e uso racional.
Texto: Suse Portes / Jornalista